pecheux papel da memoria

Upload: renan-patric

Post on 04-Jun-2018

229 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/14/2019 Pecheux Papel Da Memoria

    1/5

    P PEL MEMRI

    No pretendo fornecer um levantamento cxau:-;Livodotrabalho da manh, nem resumir as trs apresentaes de quenos beneficiamos. Gostaria simplesmente de dar a tonalidadedelas, acentuando o que me pareceu ser as nervuras principai:-;.Q.1~Qat~ ;:.....- --'

    P10)1/7)1

    ,qCH f{ I) l (ar)I /1 /'/Y'l1J111flvrt. j ;lrt/~d t;[ (lt ~,,[;hl/e/tlU_._~~ I'J

    L't n fifl 121/': llrJl/> /

    De incio, uma observao de conjunto sobre as trs apresentaes: Pierre Achard t~al:>alhaem sociolingstica e em anlis,~Ae discurso, Jean'.l2,~v:~1}pnem se lli_~icae sociosemiLicadoespao e t:an-L()u~s lJ.~~,ndefetua pesquisas semiticas sobre o gestual na antig~ida~e ateniense clssica.

    Corramoso risco ento de ter discusses agradavelmenteparalelas, sem ponto de contato: por exemplo, uma sobre ostextos e os discursos, e outra sobre a imagem. De fato, a quesLodo papel da memria permitiu um encontro efetivo entre Lema:-;a princpio bastante diferentes. Esta qu~sto conduziu a abordaraS,condies (mecanismos, processos ...) nas quais um aconLecimento,histrico (um elemento histrico descontnuo e exLerior)

    49

  • 8/14/2019 Pecheux Papel Da Memoria

    2/5

    SllsC~J\,Lde..vir- a se inscrever na continuidade interna, noespao potencial de coerncia prprio a Uma memria.M~mrilL~Y~ s~rentel1clida aquil ~o no sentido diretamente pSlcologista da- memria IndivIdual , mas nos sentidosentrecruzados-da .memria mtica, da meri1riascirinsilta

    '. em prticas, e da memria construda do historiador. O riscote~o..cadode.ul1,1avizinh.ana flexvel de mundos paralelos se d.~\'e..de fato (?iversidade\ias condies supostas com essa inscri

    i io: a dificuldade - com a qual preciso um dia se confrorllar'- de um campo de pesquisas que vai da referncia explcita eprodutiva lingstica, at tudo o que toca as disciplinas de\ interpretao: logo a ordem da lnguae da discursividade, a da\ linguagem , a da significncia (Barthes), do simblico e da.\simbolizao ...

    \I No de se admirar, nessas condies, que a idia deuma fragilidade, de uma tenso contraditria no processo deinscrio do acontecimento no espao da memria tenha sidoconstantemente presente, sob uma dupla forma-limite que de- \sempenhou o papel de ponto de referncia:

    - o acontecimento que escapa inscrio, que no chegaa se lIlscrever;- o acontecimento que absorvido na memria, como seno tivesse ocorrido.

    No que concerne aos Illlilliplos registros evocados acima, que formallluma continuidade problemtica entre a lingstica e as disciplinas de interpretao (restando saber em que ~medida a prpria lingstica ou no uma disciplina de inler- li.,pretao), um acordo muilo amplo se manifestou, llas apresell- lI50

    taes e na dis.SatssQ,.sQbr~~J~speificidade da ordem propriaffi;erlt1ingfStica (definida por exemplo como a da variaocombinatria, qual J:~C.Milner se referiu em sua apresentao), em relaco , ordem do dL~~~.lfSivo, afortior~ em relao... ,..- - ........... -.... ~_.s do icnico, d? sifilolico ou da siIi1p.olizao.o fato de que possa existir localizao de traos distintivos e de oposies pertinentes na esfera do icnico, por exemplo, no conduziu ningum a supor que, mesmo para uma

    sincronia dada, ha~_1: ..I.Y..~r.~.a, s._gQjc.nicQ(pessoalmente,aimpensabiUcladede,uIll ~inta.~~d,.icnico.m.e parece marca~apelainexiftncia

  • 8/14/2019 Pecheux Papel Da Memoria

    3/5

    i

    Tocamos aqui um dos pontos de encontro c01 1aquestoda memriacomo estruturao de materialidade discursiva cQm-\)plexa, estendida em uma dialtica da repetio 'e da regularizao: a memria discl rsiva seria aquilo que, face a um ~exto quesurge como acontecimento a ler, vem restabelecer os implci:' :'tos';/(quer dizer, mais tecnicamente, os pr-construdos, elementos citados e relatados, qiscursos-transversos, etc.) de que SUl:}leitura necessita: a condio do legvel em relao ao 'prprIOlegveH Ora, acontece que esta uma da questes cruciais a~JJalmente abordadas pela anlise de discurso: uma discusso abertaa esse respeito, que - sem ser puro negcio de butique - revesteapesar de tudo um carter relativamente tcnico . A questo ,saber onde residem esses famosos implcitos, que esto ausentes por sua pre_sena na leitura da seqlinci:-estOles'aisponveis na memria discursiva como em um fundo de gaveta, umregistro do oculto? P. Achard levanta a hiptese de que no encontraremos nunca, em nenhuma parte, explicitamente, esse discurso-vulgata do implcito, sob uma forma estvel e sedimentada:haveria, sob a repetio, a formao de um efeito de srie pelo Iqual uma regularizao (termo introduzido por P.Achard) se ,iniciaria, e seria nessa prpria regularizao que residiriam os liimplcitos, sob a forma de remisses, de retomadas e de efei~os}de parfras (que podem a meu ver conduzir questo da construo dos esteretipos). Mas, sempre segundo ~,l\chard,_e~saregularizaodiscursiva, que tende,assim aJorrnar a lei das~ie .do legvel, sempre suscetvel de ruir sob o peso do acolllecimento discursivo novo, que vem perturbar a mem6ria: a_l 1~rnria tende a absorver o acontecimento, como uma srie matemtica prolonga-se conjeturando o termo seguintc em vista do comeo da srie, mas o acontecimento discursivo, provocandointerrupo, pode desmanchar essa regularizao e produzirretrospectivamente uma outra srie sob a primeira, desmascararo aparecimento de uma nova srie que no estava constitudaenquanto tal c que assim o produto do acontecimento; ()acontecimento, no caso, desloca c desregula os implcitos associados ao sistema de regularizao anterior .5

    ~II

    Haveria assim sempre umjogo de fora na memria, sobo choquedconte ijjejito: . - '- um jogo de fora que visa manter uma regularizaopr-existente com os implcitos que ela veicula, confort-Ia comoboa forma , estabilizao parafrstica negociando a integrao

    do acontecimento, at absorv-l o e eventualmente dissolv-Io;- mas tambm, ao contrrio, o jogo de fora de uma .4

    desregulao que vem perturbar a rede dos implcitos . ;/Em relao com a questo da regularizao, a da repetio (dos itens lexicais e dos enunciados) prolongou o debate: a

    repeti~~,_~J.l.~~sdeJ l.-I~f~ito ma~~rialque funda comut:.Qes -variaeS'r~.ass~gura~ sobretudo aonvel da frase escri~', al'-_9~pa~~y_~tb.i id;~redmavulgata parafrstica pro2duzida pi-icorrncia, quer izer; por repetio literal dessa>id~~tidaden1aier(ll.i)- -.-----,.

    Masarecorrncia do item ou do enunciado pode tambmE'este um ponto introduzido por Jean-Marie Marandin nadiscusso) caracterizar uma diviso da.,identidade material do? -~-; ~ .~ ~ - -.~. ., ..~ , ,. - ~ ,..... -- ,-' --,-,- ,item.:.sob () ~es~~~Ilmateri~lidade da palavra abre-se ent~):'; ' jogo da metMOra; como outra P9ssibilidade derticuhl0,discrsiva ..lIIIIII jIlIJ iji~~Jnln~Ul,Dll~M_~,[)_~ ~If?~ ~ : : IJ--~[ I .I~l.~~~

    ,Esse efeito de opacidad~\correspol1dente ao ponto de diviso cio mesmo e da metfora), que marca o momento emqUC()s Implcitos no so mais reconstrutveis, provavel-Imente o que compele cada vez mais a anlise de discurso a se Idistanciar daievid1Cas'-CljJroposiao,'d frase e da estabili- \ ,oade parafrstica, e a interrogr os efeitos materiais de monta-l/gi1sde s~q~l1cias, sem buscar a princpio e antes de tudo sua/I..

  • 8/14/2019 Pecheux Papel Da Memoria

    4/5

    /

    significao ou suas condies implcitas de ll1tcrpretao.Trata-se, de outro modo, de retirar-se provisoriamenle,

    taticamente, da questo do sentido, sabendo ao mesmo tempoque a questo da interpretao incontornvel e retornar sempre. A esse propsito, devo fazer um esclarecimento a respeitoda fala de Sylvain Auroux, que me atribuiu uma controvrsiacom J.-C. Milner sobre a questo de saber se ele se estimava ouno ser colega de Beauze: parece-me til explicar um poucode que se trata A questo concerne de fato ao estatuto da lingstica frente s disciplinas de interpretao. Eu tinha perguntado a Vidal-Naquet (a partir da aluso ao artigo de NicoleLoraux Tucdides no um colega , muito citado no decorrerdessas jornadas), se, para ele, Tucdides, sem ser seu colega, erano obstante um historiador; questo qual P.Vidal-Naquet respondeu: Sim, certamente , o que implica que no h comeohistrico assinalvel para a disciplina histrica, na medida emque a histria uma disciplina de interpretao: para um fsico,por exemplo, o problema de saber se Aristteles um colegano se coloca. Aristteles no para ele nem um colega, nemum fsico. Minha questo a J.-c. Milner concernia ento de fato posio da lingstica a respeito da interpretao. Perguntarse se h ou no um momento histrico assinalvel em que ,sepode dizer de algum um lingista , no ento colocar ummero poblema de datao, mas levantar a questo de saber se alingstica uma disciplina puramente experimental , ou se

    ela tem necessariamente algo a ver (de nod complexo, equvoco, ambguo ... mas algo a ver) com as disciplinas de interpretao, desde a histria at a psicanlise.

    Fecho este parntese para retprnar questo da interpre-..... ,.... .'tao em anlise de discurso: P.Achard'caracterizou esse movi-mento de retirada provisrio da questo do sentido e da vontadede interpretar, lembrando o provrbio chins Quando lhe mostramos a lua, o imbecil olha o dedo . Com efeito, por que no?Por que a anlise de discurso no dirigiria seu olhar sobre os-54

    I'

    geJ t~~Q.~geig. fl,.~ ~~..9~~.~2R~e.o:;,~..jgnat~ .~_

  • 8/14/2019 Pecheux Papel Da Memoria

    5/5

    Em que p estamos com relao a Barthes? Barthes eratanto lingista dos textos como terico das imagens, ou de preferncia no era nem um nem outro (quer dizer, nem lingista,nem semilogo, nem analista) mas antes de tudo o esboo contraditrio de gestos que tentamos hoje reencontrar, e que elesoube agenciar sua maneira talvez nica, quer dizer, em pessoa - logo tambm, e de maneira equvoca: como pessoa?

    A certeza queaparece, em todo caso, no fim desse debate que nlaimem6riatno poderia ser(;.9Il~ Jici