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8/6/2019 ET-003 Patricia Alves Ramiro
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Identidade e turismo nos espaos rurais dos assentamentos de reformaagrria no Brasil
RAMIRO, Patrcia Alves Ramiro1
DIAS, Isabela Marcantonio2
INTRODUO
No Brasil, os assentamentos rurais de reforma agrria somam 924.263
famlias, vivendo numa rea total de 85,8 milhes de hectares em 3.551
assentamentos rurais dispersos pelo pas. (INCRA, 2010)
Refletir sobre a reforma agrria traz consigo diversas questes maisamplas, como, por exemplo, a discusso da dicotomia campo/cidade, a
desigualdade social no pas, a aliana entre terra e capital, o surgimento e a
atualidade dos movimentos sociais de luta pela terra, as polticas pblicas para
a agricultura familiar, o papel do Estado no mercado agrcola nacional.
Este olhar para a reforma agrria tambm resulta numa enorme
quantidade de anlises mais pontuais, como a busca pela compreenso das
questes de gnero e de gerao nestes espaos, a sociabilidade surgida a
partir da implantao destes novos territrios, as condies de sade e
moradia, organizao social (cooperativismo, associativismo e economia
solidria), educao rural, direito agrrio, entre outras, que servem (ou
deveriam servir) para o embasamento das anlises macro anteriormente
mencionadas.
Em comum, apesar da amplitude de temticas que podem estar
diretamente relacionadas ao tema, h a busca geral pela resposta pergunta
comum a todos: que meio rural este que se apresenta hoje no Brasil? Quem
so as pessoas que ainda desejam nele permanecer ou, ao contrrio, vem no
retorno ao campo uma forma de amenizar as dificuldades enfrentadas numa
vida de escassez vivida nas cidades?1 Professora Assistente Doutora da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho.Coordenadora do Laboratrio de Estudos sobre Assentamentos Rurais. e-mail:patriciaramiro@rosana.unesp.br2 Bolsista de Iniciao Cientfica / PROPE UNESP do Projeto Assentamentos rurais e renda:estudos de alternativas financeiras no agrcolas, coordenado pela 1 autora deste trabalho
de julho a dezembro de 2010. Bolsista FAPESP desde janeiro de 2011, com projeto intituladoMultifuncionalidade da agricultura e turismo: o caso dos assentamentos rurais do MatoGrosso do Sul. Discente do Curso de Turismo da Unesp. e-mail: isaa.dias@gmail.com
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Cada vez mais, predomina no meio acadmico brasileiro a idia de que
se faz necessrio evitar a confuso entre o agrcola e o rural, reduzindo o
enfoque econmico, tratando assim enquanto espao de vida, de sociabilidade.
Todavia, menos que dar questo da infraestrutura papel menor na
determinao das outras esferas da vida social, acreditamos ser necessrio o
repensar e o redirecionamento dos olhares para as alternativas no-agrcolas
que so adotadas como novas estratgias e/ou resgate de antigas prticas da
populao campesina.
Embora, como veremos adiante, no caso brasileiro, estas alternativas
tenham a predominncia do aspecto financeiro em suas motivaes, ao
tentarem reduzir a insatisfao com a poltica de preos e a dificuldade de
acesso dos pequenos agricultores ao mercado, ainda assim, apresentam uma
conotao simblica de prticas sociais acopladas s histrias de vida das
pessoas que vem na permanncia ou no retorno ao espao rural uma
alternativa para reduo da situao de pobreza em que se encontravam.
Existe, atualmente, no pensamento sociolgico produzido na Amrica
Latina como um todo, o consenso de que se faz necessrio entender qual a
melhor estratgia para o futuro da agricultura familiar? Fala-se da importncia
de acompanhamento do avano no discurso das diversidades de formas
familiares, atravs, principalmente, da compreenso do caminho das atividades
no-agrcolas, ou seja, da pluriatividade.
Para o pesquisador mexicano, Hubert de Gramont (2010)3, cabe a
pergunta se o que existe uma nova ruralidade ou uma nova sociologia rural?
Na realidade, conforme demonstra este pesquisador, esta nova ruralidade, na
qual surgem novas relaes entre o campo e a cidade, se mescla com a
multifuncionalidade. Conceito este que teria um potencial explicativo descritivointeressante para a realidade atual do campo. Diferente da postura europia,
na qual o Estado assume a responsabilidade de elevar a populao rural s
mesmas condies de vida da populao urbana, na Amrica Latina, vemos
que o peso do Estado bem menor.
Este recente paradigma de que o campo no pode mais ser visto como
espao do setor primrio, i.e., no mais sinnimo de agricultura, sendo ntido
3 Palestra proferida pelo pesquisador durante o VIII Congresso Latinoamericano de Sociologia Rural.
Amrica Latina: realineamentos polticos y proyectos en dispuita, realizado no Brasil, em 2010.
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quando vemos que, no Mxico, por exemplo, as atividades no-agrcolas j
representam mais da metade da renda dos agricultores.
No caso do Brasil, quando falamos numa nova ruralidade, especialmente
nos assentamentos rurais de reforma agrria, a condio de organizao social
em fase de estruturao e construo identitria muito mais clara.
A reorganizao do espao rural atravs da implantao de
assentamentos rurais vem, segundo diversas pesquisas, mostrando que, se
analisado sob a tica da conquista dos direitos sociais da cidadania, tais como:
moradia, alimentao e sade, as melhoras nas condies de vida desta
populao, segundo suas prprias representaes sociais, so, em relao a
situao anterior, significativas. Todavia, embora tenham, aps o acesso a
terra, o direito ao trabalho garantido, conseguir suprir as necessidades
financeiras que este atual panorama do espao rural impe ainda um desafio
a ser vencido.
Este artigo analisa algumas formas alternativas de gerao de renda
no-agrcola inclusas no trabalho cotidiano em assentamentos rurais, com
nfase na implantao de atividades tursticas.
Optamos por locus da pesquisa assentamentos inseridos na regio
centro-oeste e sudeste do pas, especificamente, a regio sul do Mato Grosso
do Sul e a regio do Pontal do Paranapanema, no oeste do estado de So
Paulo, prximas geograficamente e, nesta etapa, adotamos como forma
metodolgica a anlise bibliogrfica do material produzido nas universidades
pblicas destas localidades4.
Pluriatividade, Multifuncionalidade da agricultura e turismo
Os conceitos de pluriatividade e multifuncionalidade da agricultura j
norteiam o pensamento acadmico dos pases europeus, em especial, o
francs, e vm servindo para facilitar a compreenso da situao camponesa
no contexto contemporneo.
4 Este material faz parte da pesquisa desenvolvida pela autora, Assentamentos Rurais e renda:estudo de alternativas financeira no-agrcolas, com financiamento da Pr-reitoria de Pesquisada Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho.
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Como esclarece a antroploga Maria Jos Carneiro (1998), o conceito
inicial desta discusso foi o de agricultura em tempo parcial, utilizado na
Frana durante o debate dos especialistas nas dcadas de 60 e 70 do sculo
XX, tendo o conceito de pluriatividade5, sido enfatizado apenas durante os anos
80, cuja principal distino reside no sentido de um processo mais amplo e
permanente que este ltimo carrega. (CARNEIRO, 1998) Segundo esta autora,
no caso francs:
As atividades complementares ou suplementares produo agrcolaexercidas por um ou vrios membros de um grupo domstico soreconhecidas tanto por aqueles que estudam a questo agrria quantopelos agentes sociais a implicados (agricultores e tcnicos agrcolas)com a noo de pluriatividade. (CARNEIRO, 1998, p. 151)
Sendo assim, importante compreendermos que a categoria
pluriatividade utilizada para designar situaes e processos sociais
heterogneos, comporta outras formas de explorao sustentadas no apenas
na agricultura, mas na combinao com outros tipos de atividades econmicas
dentro ou fora de uma mesma unidade domstica. (CARNEIRO, 1998, p. 149)
O conceito de pluriatividade mostrou-se bastante adequado porque, por
exemplo, nem todas as atividades externas apresentam relao direta com areduo do tempo de trabalho na agricultura. Podemos dizer que uma definio
mais completa do conceito de pluriatividade foi dada por Fuller (apud
SCHNEIDER, 2009, p. 85), segundo o qual:
A pluriatividade permite reconceituar a propriedade como umaunidade de produo e reproduo, no exclusivamente baseada ematividades agrcolas. As propriedades pluriativas so unidades quealocam trabalho em diferentes atividades, alm da agricultura familiar
(home-based farming). [...] A pluriatividade permite separar aalocao do trabalho dos membros das famlias e suas atividadesprincipais, assim como permite separar o trabalho efetivo dasrendas. Muitas propriedades possuem mais fontes de renda do quelocais de trabalho, obtendo diferentes tipos de remunerao. Apluriatividade, portanto, refere-se a uma unidade produtivamultidimensional, onde se pratica a agricultura e outras atividades,tanto dentro como fora da propriedade, pelas quais so recebidos
5De acordo com Sergio Schneider (2009), o conceito de pluratividade na agricultura familiarsurge partir da necessidade que a Comunidade Econmica Europia (CEE) notou-se que as
unidades familiares rurais combinavam a agricultura com outras atividades no agrcolas,ouseja complementando a renda da famlia com uma outra atividade econmica.
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diferentes tipos de remunerao e receitas (rendimentos, rendas emespcie e transferncias).
Embora, a opo pelas atividades no agrcolas dependa de fatores que
lhe so exteriores, como o mercado de trabalho no agrcola, depende tambmde decises subjetivas (individuais ou coletivas) dos sujeitos que decidem
adot-las. De todo modo, tendem a apontar para o entendimento de que existe
um desejo de garantir o direito permanncia no campo, mas com a
reivindicao de garantia de uma qualidade de vida equivalente aos benefcios
que percebem nas cidades.
Outro conceito, originado na Frana, importante para a compreenso do
mundo rural atual o de multifuncionalidade. Maria Jos Carneiro (1998)
defende que a adoo do conceito francs de multifuncionalidade da
agricultura familiar pertinente ao estudo da realidade brasileira, no sendo
apenas um modismo, como acreditam alguns. Isto porque se baseia em duas
idias centrais:
(...) a de que a compreenso da agricultura familiar como umarealidade complexa e multifacetria faz parte da j antiga e profundatradio dos estudos sobre o campesinato e a agricultura familiar no
Brasil. Em segundo lugar,a afirmao de que o reconhecimento docarter multifacetrio da agricultura se inscreve neste quadro deanlise, reforando os argumentos de defesa e legitimao daagricultura familiar. (CARNEIRO, 2003, p. 09)
O cerne da questo reside em compreender como se d o recebimento
das novas tcnicas e quais so as prticas materiais e simblicas adotadas
para permanncia no meio rural, i.e., como so reinterpretadas as experincias
familiares e individuais que resultam em transformaes sociais, dando formato
s novas ruralidades do mundo contemporneo.
Esta nova ruralidade comporta a adoo de novas prticas, sendo o
turismo nestes espaos um possvel vetor para o desenvolvimento de
atividades relacionadas ao mesmo, como: o fortalecimento das pequenas
agroindstrias comunitrias, ampliao do mercado para os produtos
alimentcios artesanais fabricados pelos moradores locais (queijos, gelias,
pes, etc) e para venda de artesanato local.
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Outro resultado possvel para a adoo do recebimento de visitao a
dinamizao destes espaos atravs da necessidade da melhoria dos servios
oferecidos: estradas, atendimento de sade, postos de correio, abastecimento
de energia e gua.
Desta maneira, concordamos com Schneider e Fialho (2000) ao
afirmarem que:
(...) deve-se destacar que, no perodo recente, a definio do que seentende por espao rural vem sofrendo alteraes, no s pelocrescimento da importncia das atividades no agrcolas, queminaram a identidade do rural com a qualidade de vida. Alm disso,o ambiente rural vem incorporando aspectos relacionados ao lazer eao ludismo que, em grande medida, esto contribuindo para aredefinio de percepes simblicas da populao de extraourbana. (SCHNEIDER, FIALHO; 2000, p. 31)
Nesta perspectiva, o turista que se dirige ao ambiente rural vai busca
de atividade tpicas realizadas no campo, podendo assim usufruir ou no de
outros servios agregados ao produto turstico.
Turismo no espao rural dos assentamentos de reforma agrria
A discusso que permeia a rea do turismo cresce significativamente no
meio acadmico, e modifica os modos de pensar, analisar e planejar a
atividade. Paralelamente a essas circunstncias, o turismo expande seu campo
de atuao, se apropria de espaos e comea a difundir-se no cenrio rural,
seja nos setores sociais, econmicos e polticos, proporcionando assim o
surgimento de novas atividades no-agrcolas, ligadas direta ou indiretamente
a produo agrcola, muitas vezes decorrente da implantao de atividades
tursticas. Segundo Schneider (2000), os pesquisadores do projeto Rurbano,
coordenado por Jos Graziano da Silva:
(...) destacaram que, nas ltimas duas dcadas, o meio ruralbrasileiro vem registrando um aumento de atividades no agrcolasque at pouco tempo eram consideradas marginais, devido pequena importncia na gerao de renda. Essas atividadespassaram a integrar verdadeiras cadeias produtivas, envolvendoagroindstrias, servios, comunicaes. Entre essas, pode-sedestacar o turismo rural como uma das atividades indutora do
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crescimento de ocupaes no agrcolas no meio rural.(SCHNEIDER, 2000, p. 31)
Assim, a atividade turstica no espao rural pode constituir-se numa
forma de valorizao do territrio, desde que tenha uma boa gesto,contribuindo para proteo ambiental e conservao do patrimnio natural,
cultural e histrico destes espaos. Contudo, se esta for mal planejada e
executada pode ser tornar uma atividade insustentvel. (VIEGAS e RAYE,
2010).
Conforme definio de Beni (2003, p. 429), podemos afirmar que o
turismo rural a definio dada ao deslocamento de pessoas a espaos
rurais, em roteiros programados ou espontneos, com ou sem pernoite para
fruio dos cenrios e instalaes rurcolas.
No cenrio da atual economia rural brasileira, em alguns casos, a prtica
da atividade turstica surge como uma alternativa de renda e de agregao de
valor ao campo, apresentando caractersticas que possibilitem a integrao
entre as gestes locais, bem como o desenvolvimento sustentvel.
Para que esse cenrio de modificaes no ambiente rural se concretize
e desenvolva so necessrias polticas de apoio capazes de proporcionar a
diversificao da economia, a gerao de empregos e, conseqentemente,
renda, o oferecimento de oportunidades tanto para jovens como mulheres, a
valorizao de patrimnios, culturais, ambientais e naturais, bem como a
comercializao do produto agrcola.
Viegas e Raye (2010) afirmam que as atividades no-agrcolas
conquistam um espao cada vez maior entre os agricultores familiares, uma
vez que a agricultura tradicional no mais suficiente para a garantia de
sobrevivncia dessas famlias.
A partir de ento, o campo visto como um destino potencial de
implantao da atividade turstica que envolve diferentes usos e significados,
que respeita s tradies, oferece trabalho digno, bem como uma relao
direta e amorosa com a terra e a natureza, tornando-se sinnimo de morada
com simplicidade.
Todavia, preciso evitar o pensamento do turismo como panacia,
afinal, nem so s impactos positivos que o desenvolvimento da atividade podeocasionar. Quando o assunto a prtica do turismo em reas de reforma
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agrria, o tema ainda bastante recente e as dvidas ainda so maiores que
as afirmaes sobre a viabilidade da implantao destas atividades.
Alguns dos principais temas que acreditamos necessitarem de maior
aprofundamento nestes locais so: a questo da propriedade pblica da terra,
a necessidade da organizao social comunitria para prtica adequada do
recebimento de visitaes, os altos custos da implantao da atividade, o
formato atual da linha de crdito destinada para os mesmos (PRONAF Turismo
Rural), a discusso acerca da hospitalidade como um modo de vida &
introduo do capital como intermediador das relaes sociais (caso do
turismo), entre outras questes mais especficas, como segurana, por
exemplo.
Contudo, nossas pesquisas tm apontado para a existncia de
visitaes em alguns assentamentos rurais, as quais precisam, portanto, serem
analisadas e compreendidas a fim de avanarmos nesta discusso. Sendo
assim, um dos objetivos deste trabalho apresentar os estudos sobre esta
temtica que foram localizados por ns, tendo como rea de anlise a regio
sul do Mato Grosso do Sul e o oeste paulista, na regio conhecida como Pontal
do Paranapanema.
Com mostra Souza e Hespanhol (2010), a discusso que existe acerca
dos assentamentos rurais e as atividades desenvolvidas nestes espaos
caminham para a descoberta de novos produtos e servios como
a prpria experincia de vida (por exemplo, a vida no assentamento),o saber fazer expresso por meio dos alimentos produzidos (docescaseiros, queijos, pes etc), do artesanato (cestos, bordados manuaisetc.) e a prpria lida no campo, poderiam se constituir empossibilidades para que os assentados tivessem o turismo como umaalternativa de renda nos assentamentos pesquisados. (SOUZA e
HESPANHOL, 2010, p.13)
Podemos, ento, tratar a atividade turstica enquanto uma rea que
pode contribuir e diversificar a renda gerada nos assentamentos rurais e ao
mesmo tempo agregar valor as atividades j existentes, de modo que no as
modifique. Porm, a implantao do turismo nestes locais, assim como em
outros, pode ou no ser aceita por parte dessa comunidade, uma vez que os
interesses existentes entre as partes envolvidas e a contribuio esperada para
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o desenvolvimento social, poltico, econmico e ambiental, pode no atingir s
expectativas de todos os moradores.
Nas vises mais otimistas sobre o turismo no espao rural, temos a
idia de Almeida e Souza (2006) quando dizem que:
[...]o turismo cria oportunidades de ganhos e actividades de trabalhointensivo e em parte no especializado, compatvel no imediato comnveis reduzidos de formao das populaes locais; induz melhoriasdos quadros de vida, das ofertas de servios pessoais e sociais oudas acessibilidades, e uma maior funcionalidade (horrios, acessos,parqueamento, sinaltica); valoriza patrimnios, especificidades eidentidades; estimula a preservao dos ambientes; oembelezamento dos territrios, um melhor ordenamento e aactractividade dos espaos; promove novas relaes entre os actoreslocais e inter-regionais. (ALMEIDA; SOUZA; 2006, p. 89-90)
Nesta perspectiva, a atividade turstica no espao rural proporciona hoje
a pluralidade de prticas e produtos devido incorporao de novos
segmentos e funes, bem como dos mltiplos recursos existentes para o seu
desenvolvimento. Por outro lado, os discursos utilizados para a implantao e
prtica nestes ambientes seguem um discurso poltico e acadmico que acaba
muitas vezes por gerar expectativas exageradas e no condizentes com as
realidades existentes. Assim, os mesmos autores (ALMEIDA; SOUZA; 2006)afirmam que o turismo tem gerado esperanas, por vezes exageradas, na
constituio de estratgias para o desenvolvimento de reas rurais.
Locus da pesquisa:
Visando compreender os impactos (positivos e negativos) que a
implantao de atividades tursticas em reas de reforma agrria podeocasionar, na etapa atual de nossa pesquisa, realizamos um levantamento
bibliogrfico sobre este temtica. Adotamos como local privilegiado de anlise
os assentamentos rurais de duas regies brasileiras: a regio do Pontal do
Paranapanema, no extremo oeste do Estado de So Paulo, e a regio sul do
Estado Mato Grosso do Sul.
A escolha por estes territrios se justifica devido proximidade
geogrfica de ambos e por serem locais conhecidos por suas histrias deconflitos sociais intensas na luta pela terra.
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Essas regies contam em sua extenso com um grande nmero de
famlias assentadas, assim cabe aqui destacar as cidades que abrigam esses
espaos de lutas, conquistas e vidas.
Mapa 1. Mapa de Localizao da Regio do Pontal do Paranapanema no Estado de So Paulo.
Fonte: Sindicato dos rbitros de Futebol do Estado de So Paulo; 2011.
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Mapa 2. Mapa de Localizao da Regio Sul do Estado do Mato Grosso do Sul. Fonte:Limgs.2011.
Com base em dados da Fundao Instituto de Terras do Estado de So
Paulo Jos Gomes da Silva (ITESP), rgo responsvel pela extenso rural eassistncia tcnica a estes espaos, existem quinze municpios na regio do
Pontal do Paranapanema que possuem assentamentos, sendo eles: Mirante do
Paranapanema, Teodoro Sampaio, Rosana, Marab Paulista, Presidente
Epitcio, Euclides da Cunha Paulista, Caiu, Rancharia, Sandovalina,
Presidente Bernardes, Presidente Venceslau, Piquerobi, Martinpolis.
No caso do Mato Grosso do Sul, encontramos assentamentos rurais nos
seguintes municpios: Corumb, Nioaque, Bodoquena, Guia Lopes da Laguna,
Chapado do Sul, Bonito, Novo Horizonte do Sul, Jate, Bela Vista, Paranhos,
Dois Irmos Buriti, Anastcio, Terenos, Nova Andradina, Ribas do Rio Pardo,
Sidrolndia, Itaquira, Bataypor, Santa Rita do Pardo, Sonora, Ribas,
Brasilndia, Nova Alvorada do Sul, Ponta Por, Eldorado, Dourados, Jaguari,
So Gabriel DOeste, Bataguassu, Rio Brilhante, Paranaba, Maracaju,
Miranda, Ladrio, Aral Moreira, Japor, Iguatemi, Ivinhema, Paranhos, Campo
Grande, Anaurilndia, Tacuru, Jardim, Mundo Novo, Caarap e Trs Lagoas.
(INCRA, apud SILVA, 2004)
A partir do levantamento bibliogrfico e das leituras realizadas foi
possvel constatar que a agricultura familiar no mais tida como nica fonte
de renda, pois no capaz de suprir as necessidades dessas famlias, sendo
necessria agregao de mais uma atividade seja ela no meio rural ou nas
cidades prximas a esses assentamentos. (cf. ALMEIDA, 2003; LEITE, 2005).
No caso do estado do Mato Grosso do Sul, a prtica turstica foi de
tema de estudos no assentamento Sul Bonito, localizado no Municpio de
Itaquira, h 400 quilmetros da capital, Campo Grande. (MORETTI e SILVA,
s/d)
O assentamento rural Sul Bonito foi implantado em 1996 e possui em
dois de seus lotes uma praia fluvial, s margens do Rio Paran. A praia fluvial
que se forma o principal atrativo considerado turstico na localidade, pois
procurado e utilizado por moradores e turistas da regio.
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Esta prainha, como conhecida a praia fluvial apresenta infra-estrutura
bsica, gua encanada, churrasqueiras, energia eltrica, vestirios, lanchonete,
quadras de areia e rea de camping, contudo, a rea ilegal e necessita de
legalizao para que demais atividades possam ser desenvolvidas tanto
nesses dois lotes, como nos demais do assentamento Sul Bonito.6 A prtica e
o estudo da atividade turstica neste espao ainda est em fase inicial, pois h
uma problemtica maior envolvida, a desapropriao dessas reas e a
realocao dos assentados, contudo, h um fluxo de turistas principalmente na
poca da Itaquipesca, uma festa tradicional do assentamento destinada a
pesca esportiva. (MORETTI e SILVA, s/d)
Quanto aos assentamentos localizados no Pontal do Paranapanema h
uma gama de estudos que tratam do turismo nesta regio, bem como sua
possibilidade de implantao, por diversas vertentes de anlise como as
dinmicas socioterritoriais e socioeconmicas, o uso e a aplicao de
metodologias participativas e na perspectiva de preservao e conservao do
meio ambiente7. Carneiro (2007, p.47) afirma que nos assentamentos de
6 As informaes aqui descritas foram retiradas do trabalho MORETTI, Edvaldo Csar; SILVA,Daiane Alencar da. A territorialidade turstica no assentamento rural Sul Bonito/MS: A
influncia da praia da amizade/Rio Paran. CD cedido pela autora;s/d.7 Vrios discentes do Curso de Turismo da Unesp- Campus Experimental de Rosanarealizaram seus trabalhos de concluso de curso no prprio municpio. Dentre os quais,detacamos: TEIXEIRA, Tiago Jos Grande. Turismo de Pesca, um Vis Para aEducaoAmbiental no Municpio de Rosana-SP: 2007. CARNEIRO, Luciana Pereira deMoura. Proposta de implantao de dois roteiros tursticos no assentamento Nova doPontal em Rosana, SP: anlise das limitaes e possveis solues:2007. FRANK, BartiraAgato. Elaborao de um mapa turstico georreferenciado da Trilha das Trs Rampase do Balnerio Municipal de Rosana-SP:2007. KASHIWAGURA, Jlia Brando. Diagnsticodos resduos slidos reciclveis no municpio de Rosana / SP - uma alternativa para odesenvolvimento turstico : 2007. MARKIES, Sullen Melina. Avaliao ambiental das praiasfluviais e das reas de preservao permanente do municpio de Rosana SP utilizando
ferramentas de geoprocessamento visando adequ-las para utilizao turstica : 2007.NICOLOSI, Raquel Marrafon. Turismo responsvel: uma alternativa para aproveitamento dosrecursos naturais do municpio de Rosana-SP: 2007. TAKARA, Tathiana . Ecoturismo de basecomunitria: programa de monitoramento participativo aplicado ao Projeto Natur (NaturezaTurstica de Rosana): 2007. TEIXEIRA, Ana Clia de Castro. Anlise da demanda tursticado municpio de Rosana - SP como base para propostas de investimentos no setor:2007. SANTOS, Daiana Aparecida dos. Turismo e incluso social: alternativas de gerao detrabalho e renda no municpio de Rosana - SP: 2007. YAGUI, Mirian Midori Peres. A educaopatrimonial como instrumento para o desenvolvimento do turismo cultural no municpiode Rosana - SP: 2007. RALLO, Priscila Petri. Proposta de educao ambiental eaperfeioamentodo atendimento para os roteiros ecotursticos do rio Paran nomunicpio de Rosana - SP: 2008. SILVA, Lucas Antonio Teixeira Pereira da. Estudo de caso:turismo sexual em Rosana: 2008. Alm destes podemos acrescentar aqui PANDOLFI, Maira
Anglica. Turismo e Conflito por terra no Pontal. In: 12 Encuentro de Gegrafos da AmricaLatina EGAL: Caminando en una Amrica Latina en transformacin, 2009, Montevidu-Uruguai. MOURA, Luciana Pereira de; VIZZACCARO-AMARAL, Andr Lus; THOMAZ,
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Rosana, Euclides da Cunha Paulista e Teodoro Sampaio no h atividades
tursticas organizadas e j comercializadas adequadamente. Em seu trabalho
a autora prope a implantao de roteiros tursticos no Assentamento Nova
Pontal, localizado no municpio de Rosana e Portanto, conclui que possvel o
desenvolvimento de atividades tursticas nesse espao, embora sejam
necessrias adaptaes na infra-estrutura para recebimento adequado de
turistas.
Nessa mesma regio, no municpio de Presidente Bernardes
constatamos que h um assentamento, gua Limpa, onde a atividade no-
agrcola uma alternativa para dinamizar e fortalecer a produo familiar.
Miralha (2006) em sua pesquisa constatou que o desenvolvimento dessas
atividades, tanto no campo, como na cidade, est relacionado baixa renda
proveniente da agropecuria. Entre as atividades no-agrcolas desenvolvidas
no assentamento, o autor destaca a comercializao de queijos e doces
produzidos no prprio lote, as profisses de tcnico agrcola e agente de
sade.
Concluses
No Brasil, ainda estamos na fase inicial de pesquisas que aprofundem e
tragam tona quais as alternativas no agrcolas que so adotadas,
Rosngela Custdio Cortez . Turismo rural: uma contribuio ao desenvolvimento nosassentamentos de Rosana-SP?. In: VII Congresso Latinoamericano de Sociologia Rural,2006, Quito. SOUZA, Srgio Pereira de; HESPANHOL, Rosngela Ap. de Medeiros.Dinmicas socioeconmicas e possibilidades de implantao do turismo rural emassentamentos nos municpios de Rosana, Euclides da Cunha Paulista e Teodoro
Sampaio. In: VII Congresso Brasileiro de Turismo Rural, 2010, Presidente Prudente. PEREIRA,Mayara Sarro. As dificuldades e as oportunidades da associao para o turismo rural nosassentamentos do extremo oeste paulista. In: VII Congresso Brasileiro de Turismo Rural,2010, Presidente Prudente. RAMIRO, Patrcia Alves. Metodologia Participativa e TurismoRural. In: VII Congresso Brasileiro de Turismo Rural, 2010, Presidente Prudente. RAMIRO,Patrcia Alves. O papel da extenso universitria na rea rural na regio do Pontal doParanapanema. In: VII Congresso Brasileiro de Turismo Rural, 2010, Presidente Prudente.MARTINS, Mayara R. Turismo e Jovens Assentados. In: VII Congresso Brasileiro deTurismo Rural, 2010, Presidente Prudente. RAMIRO, Patrcia A.; MELO, Amanda F.; DEMARCO, Lara; MATHEUS, Ingrid L.; NOMURA, Mayara L.; IGNCIO, Camila D.; REZENDE,Fernando R. Turismo Rural em rea de assentamento: uma experincia prtica. In: VIICongresso Brasileiro de Turismo Rural, 2010, Presidente Prudente. RAMIRO, PatrciaAlves. Propriedade da terra & turismo em assentamentos rurais. In: VIII CITRUDES, 2010,
Porto Alegre.
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especialmente, quando o locus da pesquisa so os assentamentos rurais de
reforma agrria, caso deste trabalho.
Em geral, o turismo em assentamentos rurais, embora possa abrigar
uma multiplicidade de tipologias do mesmo, tendem, devido ao ambiente scio-
cultural e ambiental presentes, prtica da implantao do agroturismo,
valorizando assim, o plantio e as criaes animais do local. Tal tipologia
mostra-se a mais adequada principalmente porque vai de encontra
manuteno da funo social da terra, privilegiando a manuteno da
produtividade (agrcola e animal) no meio rural.
Outra modalidade turstica que talvez possa ser propcia s reas de
reforma agrria a implantao do turismo pedaggico, cujo principal objetivo
seria a desmistificao do sujeito social presente nos assentamentos, cuja
imagem propagada pela mdia brasileira extremamente estigmatizada. O
objetivo maior deste tipo de atividade seria a divulgao dos assentamentos
rurais enquanto modo de vida que resulta de trajetrias familiares e individuais
de situao de carncia e excluso vividas anteriormente na cidade ou mesmo
no campo.
A prtica do turismo nestes espaos aparece no apenas como uma
atividade no-agrcola capaz de gerar renda, mas tambm como forma de
preservar e compartilhar as culturas existentes nesses espaos seja essas, de
cultivo e plantio, de festas ou de crenas religiosas. Assim, a atividade turstica
passa a ser uma ferramenta de contribuio para o desenvolvimento, social,
poltico e econmico desses espaos. Contudo, as realidades que se
encontram so um tanto quanto distintas e merecem ser disciplinadas para
que no haja a apropriao do espao rural e a excluso dos prprios
moradores.E, para encerrar, voltamos a afirmar que este um estudo introdutrio e
que a temtica ainda precisa de mais pesquisas que visem compreender as
prticas materiais e simblicas dos assentados na luta pela permanncia na
terra. Ainda bastante precoce e imprudente utilizarmos exemplos bastantes
contextualizados para refletirmos sobre a implantao de atividades tursticas
em reas de reforma agrria.
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