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BORIS WOYPASSAD 0 A LIM PO

Entrevistado por 25jornalistas epoh-ticos, o dntora do SBT disseca suavida e diz porque tudo isso é uma vergonha

AS VÍTIMA

DA IMPREN S

ENTREVISTA : DAMUSA LEA()

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O âncora do TJ Brasil passa a limpo sua trajetória

Ele faz um pequeno giro lateral coma cabeça, a câmera fecha no rostoredondo, o tom é de indignação nadose certa e a boca abre e fechacomo se mastigasse cada palavrapronunciada:

- Isso é uma vergonha !A frase também poderia ser "Pre -

cisamos passar o Brasil a limpo", que elerepetiu à exaustão na época do processo deafastamento do ex-presidente Fernando Collor.As duas são a marca registrada do âncora do TJBrasil, do SBT, Boris Casoy, 52 anos. O telejor-nal que ele comanda ainda está longe de abalaras estruturas do campeão de audiência, oJornalNacional, da Globo. Mas pouco a pouco vaiconquistando os telespectadores . Segundo o Ibo-pe, o TJBrasil registrou em dezembro, na capita lpaulista, nove pontos em média . Nada mau paraquem está somente há quatro anos e cinco mese sno ar (o JN tem mais de 20 anos de janela) .

Mas o mais importante é que Boris Casoy ,com seu telejornal, criou uma opção ao padrã oGlobo de jornalismo. Boris tem opinião e fa zquestão de exibi-la aos telespectadores. Que mconhece o estilo dos âncoras americanos di zque Boris Casoy é completamente diferente .Lá os âncoras não dizem o que pensam nafrente das câmeras . Boris Casoy preferiu levaro seu jeito para a TV. "Não foi nada premedi-

tado", ele se apressa em explicar . "Mas nãonego que gosto de ter criado algo novo . "

A opinião, temperada com descontração ebom humor, já rendeu situações impagáveis .

Certa vez, Casoy entrevistava o megaespecu-lador Naji Nahas, acusado de uma operaçã ofraudulenta de milhões de dólares que quas eimplodiu a Bolsa de Valores paulista . Pediu ,então, que o entrevistado desse sua versão dahistória. Nahas se colocou no papel de vítim ae desfiou um rosário de justificativas técnica scompletamente herméticas para quem nunc aacompanhou um pregão .

- O senhor está me provocando tant apena, dizendo que ficou tão pobre, que eu atévou lhe emprestar algum dinheiro - disparo uCasoy, levando a mão ao bolso para dar al -guns trocados à Nahas .

Casoy chegou à TV em setembro de 1988 ,depois de dizer sim de um orelhão, em Muni-que, ao convite do SBT. Antes, havia trabalha-do por 14 anos na Folha de S. Paulo, ondechegou a editor-chefe . Ao longo de 36 anos dcjornalismo passou por várias rádios, além d eter atuado como assessor dc Imprensa de doi ssecretários de Estado paulistas, um prefeito edo ex-ministro da Agricultura Luiz Fernand oCime Lima, no governo Médici .

Boris Casoy interrompeu suas férias, cmjaneiro, para responder as 25 perguntas re -colhidas por IMPRENSA para este Pinga -Fogo . Quando chegou ao final do ques-tionário, estava espantado por ter passadosua vida a limpo . Confira .

QUEM SOU E UNome com-

pleto : Boris Ca-soy . Data denascimento : 1 3de fevereiro de1941 . Estado ci-vil: Solteiro . Re- 1sidência: Gran-ja Julieta, São Paulo. Profusão: Jorna-lista Empresa em que trabalha: SBT.Hobby : "Nenhum especifico". Cor pre-ferida : "Nenhuma em especial " . Esportepreferido : Futebol. Número da sorte :

" Isto é besteira" . Signo: "Também ébesteira". Cantor e cantora preferi -dos : "Muitos" . Música preferida:"Muitas". Time do coração : Palmeiras.Sonho: "Não tenho sonhos". Ultimolivro que leu : O anjo pornográfico, deRuy Castro. Carro: Santana Quantum .Número do sapato: 44.

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IMPRENSA - FEVEREIRO 1993 l1

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"A maior parte dos políticos é servil e se serve do poder"

No TJ Brasil você tem sido um defen-sor intransigente do império da lei, pro-testando, por exemplo, contra adiscriminação dos ciganos e indignando-se com a chacina de presos do Carandiru .Mas se você coordenasse uma comissãode direitos humanos em São Paulo, qua lseria sua agenda básica?

(Paulo Sérgio Pinheiro, professorassociado de Ciência Política da USPe diretor do Núcleo de Estudos daViolência )

BORISCASOY - Neste momen-to estaria preocupado em salvar o pró-prio conceito de direitos humanos . Astrevas da sociedade brasileira estão seapropriando desse conceito e o trans-formando em palavrão . A cada crime ,a cada violência, tenta-se incutir napopulação que os direitos humanos sãoresponsáveis não só por esses atos,comopela impunidade . Nessa distorçãohá uma complicidade assustadora dedetemúriados setores da Imprensa . Issopreocupa não só porque escamoteia aincompetência policial, como tambéminduz ao autoritarismo . Sugiro umacampanha de esclarecimento sobre issoporque, do jeito que as coisas vão, o sdefensores das direitos humanos logo-logo estarão sendo caçados pelas ruas .

Você acredita na classe polític abrasileira? Acredita que as refor-mas políticas podem salvar a demo-cracia no Brasil?

(José Dirceu, deputadofederal pelo PT-SP)CASOY - Não gosto e não aceito tecni-

camente a expressão "classe politica" . Politi-

cos deveriam sercidadãos e cidadãs a serviçode sua comunidade, de seu país. A maiorpartedos politicos brasileiros está longe disso. Sãoservis e se servem do poder para satisfazerinteresses nan sempre confessáveis. Mas háno Brasil uma elite de politicos competentese honestos. Infelizmente eles são minoria.Achoque urna reforma politica que democra-timacsr, m lo a eleição e permitisse um fim-cionamento correto dos Poderes, corn fortefiscalização da sociedade, poderia aperfeiçoarnossa tentativa de deniocracia. Mas aindatenho duvidas se a "classe política" quer mes-mo essas reformas. Boa parte dela não quertapar o bico da mamadeira.

São duas perguntas : 1) Na sua expe-riência como jornalista, qual o fato qu emais trouxe emoção no sentido de reco-nhecimento do dever cumprido? 2) Vocêé um jornalista consagrado não apenasna área política, mas também na econó-mica . O que você vê no atual quadroeconómico do governo Itamar, se é que

alguma coisa pode ser vista?(Mario Henrique Simonsen, economista

e ex-ministro da Fazenda)CASOY - São muitas as emoções de

uma carreira de mais de 35 anos . Mas,olhando para trás, não posso deixar de meemocionar por não ter me emocionado noepisódio do impeachment. Acho que con-seguimos cobrir os fatos com equilíbrio ,inclusive abrindo câmeras e microfonespara a defesa dos acusados . Não fizemosataques pessoais . Só mostramos e coteja-mos os fatos. Conseguir manter a firmezae fazer uma cobertura correta me emocio-nou muito . Quanto à segunda parte dapergunta, confesso temer pelo desastre, anão ser que o presidente mude muito .Espero que o Brasil não volte ao ciclopopulismo-inflação-pacote . Tomara queeu esteja enganado.

Você acredita que os problemas brasi-leiros podem ser resolvidos por via de-mocrática?

(Claudio Weber Abramo, colunista de

IMPRENSA)CASOY - Já vivi o suficiente para ver

que não hi outro caminho, senão a demo-cracia representativa e pluralista. Acho ser

preciso acreditar e lutar por essa via.O Brasil está longe de ser uma demo-cracia para valer. É preciso que cadabrasileirose sinta um cidadão de verda-de, e não um personagem perdido numpalco ande interesses económicos dis -putam esse ou aquele espaço. A demo-cracia não pode ser para poucos .

Admiro seu trabalho, que hojerepresenta o moderno apresenta-dor dos telejornais brasileiros . Oseu sucesso no TJBra silestá susten-tado apenas na sua competência,simpatia e experiência, ou o depar-tamento de telejornalismo da emis-sora está estruturado para resistira um possível afastamento seu ?

(Sergio Chapelin, apresentado rdo Jornal Nacional, da Rede Globo)

CASOY - Estamos tentando trazermais gente para reforçaro TJBrasil. Hi

uma busca constante, mas não é fácil .Não hi tantos talentos disponíveis .Nem tantas verbas. Mas há urn esforçonesse sentido. Não concordo que o jor-nal esteja centrado só em mim. A esta

altura já temas um bom time de repórteres .Hi algumas baixas na equipe, mas tambémfizemos algumas conquistas, corno a MônicaWaldvogel. E novas surpresas podem surgir.

Você é um jornalista que já chego upronto à TV e descobriu a TV,da mesmaforma como a TV também o descobriu.Você se apaixonou mesmo por esse veí-culo ou ainda sente falta do trabalho nojornalismo impresso?

(Leda Nagle, apresentadora do telejor-nal Agenda, do SBT/Rio)

CASOY - Pode parecer loucura. Souapaixonado por televisão, rádio e imprensaescrita . Cada um tem seu sabor. Acho quesou apaixonado pelo jornalismo, não im-porta o veículo. Todos eles me fascinamdesde criança .

"Democracia não pode ser para poucos "

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ArpRFNSA - FEVEREIRO 1993

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"Suspeito respeitosamente de todos o governos "Que limites deve um âncora estabele-

cer para si mesmo, a fim de não preten-der impor suas opiniões pessoais nu mmeio tão contundente quanto a televisão ?

(Evandro Carlos de Andrade, diretor deredação de 0 Globo)

CASOY - Opinião é opinião. l: difícilestabelecer limites quando se trata de opi-nar . Tento defender a cidadania, nãome ligo a nenhum tipo de interesseeconômico ou político. Pus na cabeçaque trabalho para o meu telespecta-dor. 0 SBT tem permitido isso atécontra seus próprios interesses. É cla-ro que minha opinião, como a de todomundo, pode estar impregnada de ví -cios, mesmo com as melhores inten-ções . Sei disso . Mas a alternativa serianão opinar, o que acho bem pior .

No início do governo Collor, vocêchegou a demonstrar certa simpa-tia pelo presidente então recém -eleito. Depois, passou a criticar se ugoverno. A partir de que momentovocê se decepcionou com o ex-pre-sidente Fernando Collor de Mello ?

(Clóvis Rossi, repórter da Folhade S .Paulo)

CASOY - Procurei compreendero governo Collor. Não tive propria-mente simpatia. Sempre me imaginocriticando o criticável e elogiando oelogiável . Talvez isso tenha passado afalsa impressão de simpatia. Não houve ummomento de decepção com o governo Col-lor . Suspeito respeitosamente de todos osgovernos. Confesso que tenho feito um es-forço enorme para acreditar. Mas, sincera-mente, ainda não consegui . Deve ser umadistorção minha. Ou dos governos .

Desde o início do processo de impeach-ment de Collor você tem insistido empassar o país a limpo. Você acha que oBrasil já atingiu, pelo menos, o estágio d eum rascunho?

(Marina Colasanti, jornalista e escritora)CASOY - 0 Brasil está longe de ser

passado a limpo. Eu diria que estamos ten -tando fazer um rascunho. O importante éque começa a haver uma consciência de quecomo está não pode ficar, de que não sepode continuar fechando os olhos para a

miséria brasileira. Não é só uma questãomoral e ética da sociedade . Se não souber -mos passar o Brasil a limpo mesmo, a ex -plosão é fatal . E não sei o que virá depois .Pressinto que não é coisa boa. . .

Agora que o afastamento do presiden-te Fernando Collor está consumado, o

que falta para passar o Brasil a limpo?(Rabino Henry!. Sobel, presidente do Ra-

binato da Congregação Israelita Paulista )CASOY - Não tenho uma receita. E

acho que ninguém tem. O principal proble-ma brasileiro não é a corrupção. E a péssimadistribuição de renda,a miséria. Precisamosbuscar instrumentos políticos eficientespara atacar a questão. O que não é fácil, masé possível . Precisamos de uma reforma qua-se bíblica, senhor Rabino .

Quanto tempo você acha que ainda va idemorar para o governo Itamar Francofirmar-se nas próprias pernas ?

(Wilson Figueiredo, diretor de redaçã odo Jornal do Brasil)

CASOY - Depende muito do própri oItamar. Vejo nele um homem correto e comboas intenções. Ele me lembra aquele leitor

persistente que escreve para as seções d ecartas dos jornais sugerindo soluções sim-ples para todos os problemas. 0 Itamar éesse leitor que, de repente, assumiu o poder .E tenta colocar suas sugestões em prática ,embora elas nem sempre estejam em sinto -nia com a realidade. Vejo o Itamar preso e msuas próprias cartas. Se ele conseguir que-

brar os grilhões, pode fazer um exce-lente governo . Mas não é fácil que-brar amarras tão antigas . . .

Os jornais nunca estiveram tãosensacionalistas como agora. E im-pressionante a quantidade de notí-cias absolutamente irresponsáveispublicadas todos os dias . Eu mesmatenho testemunhado, nos corredo-res do poder, conversas de repórte-res que viram notícias, sempr eatribuídas a misteriosas "fontes" .A televisão, pelo menos por en -quanto, parece não ter embarcadonesse processo. O que você acha:estamos a salvo da falta de ética?

(Mônica Waldvogel, repórte rdo SBT)

CASOY - Mônica, acho que esseé um mal de toda a Imprensa brasileira .E nós, da televisão, não estamos foradisso, não. As razões são complexas :concorrência suicida, recessão, audiên-cia e, principalmente, despreparo pro-fissional. Cabe a nos, profissionais de

Imprensa, repor as coisas em seus devidostrilhos, sabendo dizer não com habilidadeàqueles que querem esses absurdos.

Considero a sua postura no TJ Brasildemocrática e plural . Como você vê a de-mocratização dos meios dt comunicação ?

(José Genoino, deputado federal peloPT-SP)

CASOY - Acho que há muito porfazer. É uma questão dinâmica e delicadaporque, em nome da busca da democrati-zação, do acesso pluralista aos meios decomunicação, podemos cair no autorita-rismo . Quero o Estado bem longe disso.Mas também penso numa fiscalizaçãomaior da sociedade no sentido de demo-cratizar o acesso aos meios de comunica-ção, mas não de estabelecer qualquer tipode controle .

"Não me ligo a Interesses políticos"

IMPRENSA - FEVEREIRO 1993 13

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"Se eu fosse do CCC, seria o primeiro judeu nazista da história "

Como você vê a atual política de con-cessão de canals de rádio e TV no Brasil ?E boa? E ruim? Por quê ?

(Antonio Carlos Fon, presidente do Sin-dicado dos Jornalistas de São Paulo)

CASOY - A Constituição de 1988 jáfoi um avanço. No entanto, as concessõesainda são privilégio de poucos. Acho que otema deve ser rediscutido . Sou poruma maior liberalização das conces-sões tanto de rádio como de televisão .Penso que deveriamos ter uma gama d efreqüências destinadas a emissoras li-vres de baixa potência para serem a vozde determinadas regiões, setores políti-cos, sindicais e comunidades. Sou con-tra qualquer tipo de controle das TVs acabo . Enfim, a idéia é liberalizar, abriro máximo possível. E também condi-cionar as concessões de emissoras demaior potência e redes à prestação realde um trabalho educativo ao país .

Você chegou ao ponto culminantede uma carreira jornalística na TV .O que você projeta para o seu futuroprofissional? Daqui para onde ?

(Ricardo A . Setti, diretor editorialadjunto da Editora Abril )

CASOY - Acho que não vivi inte-gralmente a experiência da TV. Há ain-da muito por fazer. Sonho com umanova experiência no rádio, onde co-mecei. Vejo o rádio como um veícul oextraordinário, pouco explorado no Brasil .

Durante algum tempo você foi injusta-mente patrulhado por jornalistas de es-querda. Que lições você tirou desse sepisódios ?

(Matinas Suzuki Jr., editor-executivo daFolha de S .Paulo)

CASOY - O patruihamento é uma form aodiosa de ação política. Nunca patrulhei nin-guém nem admiti ser patrulhado . Talvez porisso essa ação contra mim tenha se dado pelascostas . Sempre procurei ignorar esse tipo decoisa e agir como se essa estupidez não exis-tisse, embora alguns colegas tenham provo-cado em mim decepções pessoais, cuja smarcas, graças a Deus, sempre consegui supe -rar . Tento vero lado bom das pessoas . A lição ,Matinas, é perseverar. Acreditar e perseverar .Pode parecer ingênuo, mas é assim mesmo .

Boris, esclareça essa história de um avez por todas. É verdade que, nos anos60, você foi militante da organização d eextrema-direita Comando de Caça ao sComunistas (CCC) ?

(Luiz Egypto, editor especial de IM -PRENSA )

CASOY - É mentira . Nunca fui de

CCC nenhum . Eu era estudante de Direitono Mackenzie . A falecida revista O Cruzei-ro, já em estado de coma, produziu umareportagem sobre o CCC . Eu era líder estu -dantil e não era de esquerda . Mas estavamuito longe do CCC . Fui incluído na list ada revista por maldade do informante e po rincompetência do repórter. A maioria daspessoas citadas como do CCC não pertenci aàquele grupelho . Duas delas morreria mmais tarde na guerrilha de esquerda . 0 Fer-nando Perrone, em seu livro "68 - Relat oda Guerra", teve a coragem de desmentirtodas essas acusações contra mim . Se eufosse do CCC, seria o primeiro judeu nazis -ta da história. Essa história me marcou mui -to. Foi o exemplo de como uma publicaçãopode mexer com a vida de uma pessoa . Masos CCCs não morreram . Nem as patrulhas .Agora mesmo criou-se em São Paulo um

novo CCC : o Comando de Caça aos cx-Co -munistas, dedicado a caçar os comunistas queexerceram seu direito democrático dc muda rde idéia e foram de Stalin para Paulo Maluf .

Hoje em dia, há uma opinião gencrali -zada de que São Paulo só comporta umgrande jornal. Isto quer dizer que, entre

O Estado de S.Paulo e a Folha de

S.Paulo, um dos dois iria desapare-cer. A Folha seria o jornal mori -bundo? Qual dos dois vai sobrar?

(Ciro Marcondes Filho, professor

titular de Teoria do Jornalismo d aECA-USP)

CASOY - Durante muito tempoacreditei nessa tese . Hoje não acre-dito mais . Acho que, se não houverdesastres, Folha e Estado e mai sjornais têm condições de sobrevi -ver. Fica difícil raciocinar no qua-dro do mercado atual . A comu-nicação está mudando muito . E par amelhor . Não sei se o produto jorna lserá exatamente o mesmo daqui aalguns anos . Creio que não . Só mor-rerá quem não souber se adaptar .Excluindo-se, é óbvio, quem j ámorreu e não sabe disso .

Foi um avanço para o telcjorna-lismo brasileiro a presença de u manchorman como você, com a liber-dade de externar uma visão jorna -

lística dos fatos. Não acha você que estána hora de a TV brasileira também re-servar um espaço para o debate da sgrandes questões nacionais, já que ne-nhuma grande rede de TV do país reser-va um só horário para essa finalidade ?

(Alexandre Machado, apresentador doprograma Vamos Sair da Crise, da TV

Gazeta de São Paulo )CASOY - E difícil compatibilizar o

interesse comercial com essa necessida-de . Mas acho que essa utilidade públic ada televisão - uma concessão - nãopode ser esquecida . E acredito que há umatendência para que isso se concretize len-tamente . Até porque as grandes redes es -tão descobrindo que o jornalismo érentável . Ou seja, o mercado pode acaba rse encarregando de colocar as coisas no sseus devidos lugares.

"Nunca admiti ser patrulhado"

14 IMPRENSA - FEVEREIRO 1993

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Você já pensou algum dia em deixar ojornalismo pela política? Se fosse convida -do, ou se as "bases" exigissem, aceitaria se rcandidato a deputado federal, prefeito deSão Paulo ou a algum outro cargo eletivo ?

(Alvaro Pereira, jornalista, ex-TVGlobo, deputado federal pelo PSDB-MG )

CASOY - Já fui convidado e não acei-tei . Não sou político, não quero serpolítico . Fazendo jornalismo, me rea-lizo como cidadão e como profissio-nal. Quero morrer fazendo jornalismo

Até que ponto a vida particula rde uma personalidade pública é as-sunto jornalístico? Os relaciona -mentos amorosos, os romance sproibidos de uma autoridade, po rexemplo, são assunto para o jorna -lista, ou o ético é respeitar a priva -cidade?

(Chico Sant'Anna, presidente doSindicato dos Jornalistas do DistritoFederal)

CASOY - É uma questão delica-díssima . E as conclusões variam depaís para país, de povo para povo .Acho que a privacidade de uma figur apública deve ser respeitada até o pont oem que sua vida privada não interfir ana ação pública, no caso dos politicos,por exemplo. Na dúvida, fico semprecom o respeito à privacidade . Masreconheço que é difícil chegar a um aconclusão absoluta a esse respeito . Cad acaso é um caso. Mas eu pessoalmente pre -firo respeitar a privacidade.

Publiquei recentemente em algunsjornais um artigo que analisa a ética n apolítica e na Imprensa . Fiz restrições àforma irresponsável como alguns jorna -listas se comportam . Muitos ataques fei-tos a mim, por exemplo, jamais tivera mas informações checadas. Você, que dia-riamente exige que sc passe o Brasil alimpo, como vê a questão da ética, ou d afalta dela, na Imprensa ?

(Orestes Quércia, ex-governador de SãoPaulo, presidente nacional do PMDB )

CASOY - Reconheço que muitas vezeso ex-governador paulista tem sofrido acu-sações não comprovadas. E claro que tecni -camente todas as informações devem ser

sempre checadas . Não é uma questão deética. E uma questão técnica do jornalismo .Em tese, penso que o remédio para esse tipode conduta é a lei . Ao contrário do que sefala e se repete, sem se conhecer seu texto ,não acho a atual Lei de Imprensa tão ruimassim. Ela possui alguns poucos pontos au-toritários que poderiam ser eliminados . De

resto, ela cuida da defesa do cidadão contraações injustas da Imprensa. Chamo suaatenção, senhor presidente do PMDB, paraa Lei de Imprensa de autoria de um sena -dor de seu partido que tramita no Con-gresso . E uma vergonha . Inspirada pordonos de alguns jornais, ela transforma ojornalista num ser privilegiado. 0 cida-dao comum que injuriar, caluniar ou difa-mar está sujeito às penas de prisão doCódigo Penal . Mas o jornalista que fizero mesmo, através de um órgão de Impren -sa, pela lei proposta paga multa no limitede suas possibilidades . E o "liberou ge-ral" na Imprensa, a irresponsabilidadecom impunidade? Gostaria de ver um apalavra sua a esse respeito. E sua açãodentro do PMDB para evitar essa barba-ridade da qual o senhor, como políticoimportante, certamente será vítima .

Você revolucionou a apresentaçãode telejornais, mas sabe que em televi-são toda fórmula é efêmera, passa rapi-damente. Já não seria o caso de muda ro estilo ?

(Carlos Monforte, chefe do Departa-mento de Comunicação Social da Confede-ração Nacional das Indústrias)

CASOY - Monforte, isso qu evocê vê aí não é um estilo. Sou eumesmo. Não vai ser fácil mudar tudotão depressa . Espero que o TJ Brasil,

na sua forma básica, não fique velhotão rapidamente. O Jornal Naciona lsobrevive há mais de 20 anos. Moder-nizar, aperfeiçoar é possível . Mudarde estilo não vejo como . E espero queainda seja cedo.

Você não acha que a Imprens abrasileira tem piorado nos último sanos?

(Fábio Feldmann, deputado fede-ral pelo PSDB-SP)

CASOY - Há lampejos de qua-lidade, mas, no geral, o jornalism obrasileiro piora dia a dia . Debitoisso a uma legislação corporativis-ta, criadora de uma reserva d emercado para portadores de um ca-nudo fabricado pelas chamadas es -colas de jornalismo. É precisoabrir o mercado, ampliar o universoonde se pode buscar mão-de-obra

competente . Do jeito que está, o jornalism osó vai piorar.

No dia da votação da admissibilida-de do impeachment, você estava n oCongresso Nacional e ficou no ar a ovivo por várias horas . Esta foi sua pri-meira experiência como repórter deTV? O que você achou dela? É mai sfácil ancorar um telejornal ou faze ruma cobertura como aquela ?

(Gerson Sintoni, editor de IMPRENSA )CASOY - No fundo, nunca deixei d e

ser repórter . Essa foi a minha primeira ex-periência em reportagem de televisão. Nãosenti dificuldades, embora seja mais fáci ltrabalhar no conforto de um estúdio. Estouconvencido de que meu trabalho no TJBra-sil exige que, de vez em quando, eu façareportagens .

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"No geral, o jornalismo brasileiro piora dia a dia "

"Na dúvida, respeito a privacidade "

IMPRENSA - FEVEREIRO 1993 15